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Imagem ilustrativa criada na IA do Bing |
Esse é apenas o fragmento que gosto do quadro oval a historia do artista e sua donzela no poema de Edgar Allan Poe
“Era uma jovem de raríssima beleza e não menos gentil que alegre.
Maldita foi a hora em que ela viu, amou e desposou o pintor. Este, apaixonado, estudioso, austero, já tinha encontrado esposa na sua Arte; ela, jovem de rara beleza e não menos gentil que alegre, toda luz e sorrisos, com o feitio folgazão duma corça nova, amando com ternura todas as coisas e odiando apenas a Arte, que era sua rival, só temia a paleta e os pincéis, e os outros instrumentos que a privavam da presença do seu bem-amado.
Terrível coisa foi para a dama ouvir o pintor exteriorizar o desejo de pintar também a sua jovem esposa. Mas ela, humilde e obediente, posou durante longas semanas, na sombria e alta câmara da torre, onde a luz se filtrava unicamente pelo teto e incidia sobre a desmaiada tela. Ele, porém, o pintor, punha toda a sua glória naquela obra, que progredia de hora para hora. Era um homem apaixonado, estranho, meditabundo, perdido em devaneios. E de tal maneira que não queria ver como a luz que tão lugubremente caía naquela torre isolada ressequia a saúde e o espírito de sua mulher, que definhava visivelmente para toda a gente, menos para ele.
E ela sorria sempre, sempre, sem se queixar, pois via que o pintor — de tão grande renome — sentia vivo e ardente prazer na sua tarefa, e trabalhava noite e dia para pintar aquela que tão ternamente amava — mas que enlanguescia, cada vez mais, de dia para dia. E, na verdade, aqueles que contemplavam o retrato falavam em voz baixa da semelhança, como de extrema maravilha, como de uma prova do talento do pintor, não menor que o seu amor profundo por aquela que ele tão miraculosamente pintava.
Um dia, contudo, quando a tarefa estava no fim, ninguém mais foi admitido na torre. O pintor enlouquecera com o ardor que punha no seu trabalho e raramente desviava o olhar da tela, mesmo para contemplar o rosto da mulher. Ele não queria ver que as cores que espalhava na tela eram tiradas das faces daquela que estava junto de si.
E quando muitas semanas já se tinham passado e muito pouco restava para fazer, nada mais que um retoque na boca e uns laivos nos olhos, o espírito da retratada ainda palpitou como a chama viva de uma lâmpada. Foi, então, feito o retoque e postos os laivos; e, por momentos, o pintor quedou-se em êxtase diante do trabalho concluído. Mas, um minuto depois, ainda a contemplá-lo, ele estremeceu e, tomado de assombro, gritou com voz estrepitosa: ‘Mas é a própria Vida’.
E, então,
bruscamente, voltou-se para contemplar a sua bem-amada: — Estava morta!”
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